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Obama no Brasil vs. Dilma nos EUA

Posted: 10 de abr. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , ,

Quem está a cobrir a visita oficial de Dilma aos EUA tem dado relevo à pouca importância dada ao assunto pela imprensa norte-americana. É certo que Dilma tem a agenda cheia e que o inegável o interesse com que as várias entidades a têm recebido, do MIT aos empresários, confirma boa parte das expectativas. Porém, se quisermos continuar a ser factuais, torna-se igualmente impossível não assinalar que o encontro com Obama se cingiu a pouco mais de duas horas, e que até em Portugal ecoou a ausência sequer de um convite para jantar na Casa Branca.
Ao contrário do que à primeira vista pudesse parecer, longe de ser mesquinha, a observação é antes altamente pertinente. Se, para juntar ao argumento forte da pujança internacional do Brasil, evocarmos à memória a visita de Obama ao país, no ano passado, então a incompreensão deste descaso a que a visita de Dilma foi votada pelo presidente dos EUA resulta quase gritante. Recorde-se que, após a eleição, foi Obama quem fez questão de felicitar Dilma in loco. Tinha tanta pressa que mal a deixou instalar-se no Planalto: Dilma toma posse em Janeiro e Obama chega logo em Março. Com tanta pontaria, aterra precisamente na altura em que a invasão da Líbia avança, uma opção não suportada pelo Brasil, aliás uma das vozes mais críticas da solução, na ponderação internacional da acção. Dilma conteve-se, mas nem a presença de Obama na sua casa a fez recuar diplomaticamente na questão. Por seu lado, apesar do incómodo, Obama seguiu exuberante na sedução e nas declaração de amor ao País Verde e Amarelo, agora (felizmente, para os EUA) sem Lula no leme de todas as decisões. Obama jogou futebol nas ruas das favelas, ensaiou galanteios em português e recebeu os banhos da multidão curiosa com uma humildade que não o inibiu sequer de tomar a iniciativa de confessar o interesse dos EUA na amizade do Brasil, a vontade de aprender e reproduzir um modelo de desenvolvimento que considerou, não apenas exemplar, mas profundamente inspirador. Aos pés do Corcovado, antes de voltar a levantar voo, deixou estendido o convite para que Dilma aceitasse que lhe devolvesse o calor da recepção do povo brasileiro e acedesse a visitá-lo em breve. Dilma retribuiu a cortesia e deslocou-se agora aos EUA em visita oficial. Desta vez, porém, não encontrou o mesmo clima de encanto e deslumbramento a inebriar Obama. Aliás, este segundo encontro entre os dois chefes de Estado não só não tem confirmado a chama do primeiro, como dificilmente ateia fagulha para um terceiro: resumiu-se a pouco mais de duas horas de conversa, pouco ou nenhum acordo bilateral assinado e não deu sequer – como se tem mencionado – direito a jantar.
A questão que sobra é pois a evidente: perceber porque razão o entusiasmo de Obama esfriou em menos de um ano.

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